Dizem os manuais de redação e toda a bibliografia sobre o jornalismo que notícia é tudo aquilo que tem interesse público. Está certo que, no modelo comercial, os veículos de comunicação são empresas que, como todas as outras, visam ao lucro. Dessa forma, toda redação precisa conciliar dois interesses distintos: servir ao interesse público, mas também conseguir a maior audiência possível. As duas tarefas não são, necessariamente, incompatíveis.
Nessa questão, é importante notar que, nas emissoras de rádio e TV, o jornalismo é apenas uma parte da programação. E no contexto brasileiro a guerra pela audiência tem se tornado cada vez mais acirrada. A consequência é que o tal do interesse público que deveria pautar a atividade jornalística, muitas vezes, fica em segundo plano. No curto horário reservado do jornalismo, entra a auto-promoção.
Na sexta-feira, o ESTV 1 edição exibiu a seguinte reportagem:
Acontecimento importante, não?
ô professor, vc leu toda a bibliografia sobre jornalismo? ham =P
ahá! vc modera os comentários!
Ei, mas quem é o avaliador, e quem é o avaliado aqui, afinal?! rsrsrsrs
Professor,
escreveu não é mais seu. tá na pista é pra negócio.
E, bem, eu tenho interesse em novelas sim. Inclusive, sou consumidora de revistas sobre o assunto.
Acho que a dramaturgia e, principalmente, a teledramaturgia são formas fáceis da literatura e inclusive podem ser incentivadoras dela.
Um monte de gente vai ler Lygia fagundes teles por causa da novela das 6 que nem um monte leu José de Alencar por conta de Essas mulheres.
Por que promoção de cultura e da própria empresa não seriam interesse público.
Há que se pensar, também, que há quem diga que a telenovela é um gênero em decadência enquanto o jornalismo é um gênero com credibilidade pra falar do que quiser.
enfim, não condeno o autojabá e acho que se vc tem potencial comunicativo para se promover, deve usá-lo sim. Até por que, com tanta coisa vindo ao mesmo tempo, ganha quem grita mais alto.
Aline,
Acho que você não assistiu à reportagem antes de comentar. Mas eu escrevo sobre isso depois…
Tratava-se de uma matéria sobre a festa de lançamento da novela ‘A Favorita’ aqui no Estado. O VT da TV Gazeta mostrou um evento que aconteceu na área verde do Álvares Cabral, que contou com a presença de diversos ‘formadores de opinião’ e também das celebridades locais.
Não se trata de preconceito com telenovelas, não desviemos do ponto. A questão aqui é discutir o mérito das coisas. O preconceito contra as telenovelas é inegável, só que ele não justifica a defesa incondicional do tema. Não é porque a gente gosta de novela que dá para defender o assunto –seja ele qual for – acima de qualquer critério de noticiabilidade.
A confusão é clássica: interesse público não é interesse DO público. As pessoas podem gostar do que elas quiserem, é claro. Isso faz parte do interesse de cada um. É individual e inviolável. Mas interesse público, ao contrário, diz respeito, necessariamente, à coletividade.
“Por que promoção de cultura e da própria empresa não seriam interesse público?”
Porque esse tipo de matéria só responde ao interesse da empresa. É uma necessidade particular, comercial, somente da emissora. O departamento comercial tem o direito de promover um evento desses, mas o jornalismo se pauta por outros valores. E não é preciso ter lido ‘toda bibliografia sobre jornalismo’ para saber. Basta ter lido uma única obra de teoria ou história do jornalismo. A atividade nasceu, se legitima e se sustenta até hoje, ou seja, o que serve de base e de justificativa para sua própria existência, é o direito coletivo à informação.
Além disso, pelo que já ouvi você falar, tenho certeza que você, enquanto telespectadora – de telejornal e telenovela – não fica satisfeita com uma matéria sobre a festa de lançamento de mais um produto. No caso do VT que citei, nem mesmo o interesse DO público é satisfeito minimamente. O que aprende-se sobre a nova telenovela?
Algumas perguntas: em um espaço tão pequeno para a informação, (na grade, os telejornais ocupam poucas brechas) será que algum tema ou acontecimento com consequências para a vida das pessoas não poderia ser objeto de reportagem? Não havia mais nenhum assunto que poderia fazer a diferença na vida das pessoas? Para que serve a informação? Qual a participação que o jornalismo deve ter na apropriação e reprodução social da realidade?
Se ganha quem grita mais alto, ponto para a competitividade. O intersse público vai ficar mesmo só assistindo a tudo isso, organicamente.
É isso que dá viver em um país com uma mídia tão concentrada como a nossa. Isso traz reflexos diretos no jornalismo (como a repetição de pautas, fontes, enfoques, etc). Imagino que a tribuna não deve ter dado uma linha sobre o assunto, porque os interesses comerciais são conflitantes. O mesmo fez o grupo buaiz – Record…mas eles fariam (e fazem) o contrário tranquilamente. Esses eventos organizados pela tribuna e a gazeta são pautados para os jornais porque são promovidos pelo grupo, independente do tal “interesse público”. E o pior é que se você pega o discurso das chefias de jornalismo eles dizem “nossas pautas são a partir de demandas da sociedade, do interesse público, blá blá blá…” Isso quem fala são aqueles(as) que estão em postos mais altos, com salários maiores…porque o povo da redação (que ganha mal) sabe quando a pauta vem lá do marketing…comum ouvir que “tivermos que fazer mais 2 máterias” para aqueles “cadernos especiais” porque o pessoal do marketing conseguiu vender mais 2 páginas de anúncio e aí precisa de mais 2 de texto. Afinal, a quantidade de páginas de um jornal deveria ser definida pela quantidade de reportagens ou de anúncios?