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Nas colunas opiniativas, muitos são os artigos que criticam a antecipação do debate sobre as eleições de 2010, tanto na esfera estadual quanto federal. Concordo que há muitas outras coisas importantes para serem discutidas pelo campo político, há muito trabalho a fazer. A premissa é verdadeira: não seria correto ficar mais de um ano planejando e realizando ações que têm só o objetivo de eleger o sucessor.

Só que em muitos casos, esses mesmos artigos de opinião – que atribuem toda a culpa pela antecipação do debate eleitoral aos políticos – são publicados ao lado de matérias que insistem em pautar o equivocado debate. Na verdade, o próprio jornalismo agenda publicamente uma discussão que está sendo colocada fora de hora.

É o caso a seguir:

PT abre mão de Coser para beneficiar Dilma Roussef

Será que não havia mais nada para se perguntar ao presidente nacional do partido que visitava a cidade? Será que os jornalistas não tem capacidade e conhecimento para pautar nenhum outro assunto? Será que  o jornalismo desistiu de sua atonomia na construção da agenda pública?

Perguntar não ofende

Está no Gazetaonline (e também em outros veículos) de hoje:

Hartung reaparece e diz que atitude da Rodosol é descabida

O caso são as obras de melhorias na Terceira Ponte. A Rodosol diz que não vai arcar com os custos porque elas não estão previstas no contrato de concessão, logo ela não é obrigada a fazer. No segundo parágrafo, a reportagem traz a seguinte fala do governador:

É uma coisa que não tem cabimento. Mesmo estando escrito no contrato, tenho certeza que a Justiça brasileira quebra um termo desses, pois não se sustenta nas boas práticas de concessões”, declarou.

Detalhe: não há nenhuma fala da Rodosol.

Então Hartung está na acionando a concessionária na Justiça, porque não quer cumprir o que está previsto no contrato e é dessa forma (com amplo destaque a fala do governador) que o fato é noticiado.

A pergunta que quero fazer é bem simples : e se o governador não fosse Hartung, e sim alguém de esquerda, que também estivesse acionando a Justiça para questionar um termo de um contrato de concessão, e obrigar o setor privado a pagar uma obra pública, será que o fato teria o mesmo tratamento?

Jornalismo opinativo

A reflexão do post anterior é resultado da sala de aula, mas também do seguinte exemplo: coluna Victor Hugo desta sexta-feira (3 de abril).

Nunca antes… 
Veja como são as coisas: o homem mais poderoso do mundo (Obama) rasga seda para o presidente Lula, dizendo que “ele é o cara”. Isso porque o ibope de Lula está caindo no Brasil. Imagine se ele estivesse bem na fita.

…na história deste país 
Lula está podendo tanto que tirou foto ao lado de Elizabeth II. Apesar de alguns pessoas pensarem que ele foi “entrão”, a sentar-se perto da rainha, a cerimonialista Hilda Cabas garante: “Com certeza, ele foi convidado para ficar naquele lugar. Lá as normas são muito rígidas”, disse à coluna.

Portanto, trata-se de jornalismo opiniativo, no formato coluna.

Dar opinião é uma forma de estabelecer relações entre os diversos fenômenos da realidade; é  interpretar, ordenar o mundo; é determinar causa e efeito entre os fatos, é se colocar frente a uma questão. É produzir o real ao mesmo tempo em que se é  produzido por ele.

Agora qual a relação entre a queda do chamado ‘ibope’ de Lula e a fala do presidente Obama? É claro que a opinião tem menos compromisso com os fenômenos do que o relato, mas isso não quer dizer que as relações entre os fatos, que são objeto de atenção do jornalismo opinativo, possam ser estabelecidas de maneira completamente arbitrária. Caso contrário, continua sendo jornalismo opinativo, mas muito mal feito!
É a minha opinião….
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A pequena experiência como professor de Jornalismo, já me permite fazer algumas observações interessantes. Por exemplo: os alunos não encontram nenhuma dificuldade em identificar os formatos nos quais o jornalismo opiniativo se apresenta nos diversos media. Coluna, editorial e charge são as formas de apresentação mais lembradas, justamente por serem as mais comumente encontrada nos veículos. Com outros gêneros jornalísticos, o resultado é o mesmo: aos poucos os formatos vão sendo citados. 

A facilidade pode ser explicada pelo alto grau de padronização da atividade, pelo suposto imediatismo empírico da questão, mas também se deve ao fato de haver uma boa oferta de bibliografia da área que centra os estudos da atividade jornalística nos diversos gêneros nos quais o Jornalismo se faz ver.

Até os currículos dos cursos de graduação se organizam, em grande parte, a partir dessas classificações; dividem as disciplinas numa lógica mediocêntrica: rádio, jornal, TV e Internet. A base dessa separação é a ideia de que há, nos produtos jornalísticos, uma lógica de identidade e diferença.

Já disse que a diferença é facilmente vizualizada por todos. O que boa parte dos alunos têm mais dificuldades em determinar, num primeiro momento, é justamente o seu contrário: a identidade. Aquilo que faz com que jornalismo de rádio, de jornal, digital, cultural, econômico, informativo, opinativo ou qualquer outra predicação, seja algo de mesmo, e, por isso, continue sendo chamado de Jornalismo.

Minha pesquisa de mestrado procurou algumas respostas, mas não quero ficar ‘falando’ sozinho. Alguém aí se arrisca?

Olá de novo!

Este blogue está parecendo mais programação da TV Globo: os programas inéditos terminam em dezembro, e é somente em abril que as novidades estão de volta. Mas ao contrário dos artistas globais não fiquei parado e de férias esse tempo todo. Quem me dera ter quatro meses de férias a cada ano! Na verdade, trabalhei bastante nesse período de total abandono deste espaço. Viajei, estudei, defendi o mestrado. Li bastante, e montei os planos das três novas (para mim) disciplinas que ministro em 2009/1. Agora que o semestre letivo já engrenou de vez, vou tentar escrever aqui com alguma regularidade…

Aniversário

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No início deste mês este blogue completou um ano de existência. Aproveito a oportunidade para agradecer a todas as pessoas que acompanharam este espaço e que participaram de alguma forma: seja deixando comentários, seja sugerindo assuntos para novos posts.

Aproveito também para pedir desculpas e justificar o estado de quase abandono em que se encontra o metacobertura. É que os últimos meses foram de intenso trabalho por causa da finalização da minha dissertação. A boa notícia é que ela esté pronta. A má é que viajo para Portugal, no próximo domingo, para a defesa e, por isso, devo ficar mais um tempo sem postar nada.

Blogues (off topic)

Aproveitando o momento ‘final de semestre’ deixo aqui o link dos blogues mantidos pelos alunos da disciplina de TPJME: on line, ministrada por mim, na Ufes.

Ana Carolina Gomes Araújo: http://www.cinema123.wordpress.com/

Ana Cristina e Joyce Castello: http://whysoseriously.blogspot.com/

Aidê e Katler : http://www.estagiodevivenciaes.wordpress.com

Camila Botacin: http://comportame.blogspot.com/

Carolina e Ellen: www.maniadeler.wordpress.com

Cristiane Britto e Carla Sá: http://conexionquepasa.blogspot.com/

Fiorella Nunes Gomes: http://salada-tropical.blogspot.com

Flávia Rangel: http://trilheira.blogspot.com/

Gabriela Leal e Monique Tassar: http://newspoppin.blogspot.com/

Gabrielle Tallon: www.construidoparadeus.wordpress.com

Jananda Soares: http://balaiomusical.blogspot.com/

Michelli de Souza: http://culturanaperiferia.blogspot.com/

Rafael Moura e Marcus Vinícius: http://passecerto.wordpress.com/

Rodolpho Paixão e João Guerra: http://diretodasaladejustica1.wordpress.com/

Taynã Feitosa: www.leestening.blogspot.com

Radiojornal (off topic)

Mais um semestre se vai e mais um radiojornal é produzido pelos alunos da disciplina de Laboratório de Radiojornalismo ministrada por mim na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). No podcast da turma há também várias reportagens. Divirtam-se:

Perguntar não ofende

O que a divulgação da agenda dos candidatos a prefeito acrescenta ao debate público?

O outro lado III

Os teóricos que defendem a objetividade no jornalismo não negam a subjetividade daquele que escreve. Pelo menos os pesquisadores sérios concordam que os jornalistas não podem se despir de todos os seus preconceitos, pressuposições, concepções de mundo, ideologia, posição política ou de toda bagagem pessoal na hora de apurar e escrever uma matéria. Mas então que raios de objetividade seria essa? É o método que deve ser objetivo, não o jornalista. Um dos procedimentos que respondem a essa necessidade – de um método objetivo – é o de ouvir o outro lado.

É afirmar o óbvio; é chover no molhado, concordo. Mas aponto aqui, mais uma vez, que valores bem caros ao jornalismo como a honestidade, a isenção, a imparcialidade e a objetividade já citada acima, não vivem sem essa regra de conduta: é preciso ouvir o outro lado, dar voz ao contraditório. É obrigação de toda e qualquer matéria – da nota mais curta, a reportagem mais completa – mostrar com equidade os vários lados de uma mesma questão. Caso contrário é melhor nem publicar o texto, nem mesmo levar o material ao ar. Só que, na prática, nem sempre é assim.

Nesta quarta-feira, dia 10 de setembro o ESTV 2ª edição exibiu a seguinte reportagemAssembléia legislativa aprovou lei que proíbe a abertura de comércios aos domingos e feriados

Eu também não gostei da proibição. Como consumidor acho muito cômodo poder ir ao supermercado aos domingos, ou nos feriados, mas não é isso que está se discutindo aqui. O problema é que a reportagem ouviu quatros pessoas: dois comerciantes e dois clientes. Cada um com o seus motivos, todos manifestaram-se contrários a proibição. É claro que ficou faltando ouvir os argumentos do autor do projeto de lei, e de um representate dos comerciários – os principais interessados e motivadores da lei recém aprovada.

Como a categoria recebeu a aprovação do projeto? Se depender da TV Gazeta, vamos continuar sem saber. O outro lado, passou completamente em branco. A reportagem está incompleta, parcial e foi desonesta com o assunto. Pior para quem depende da TV como fonte de informação para entender o que se passa no Estado.